Superfícies

Marcone Moreira

De 09 Abr a 28 Mai 2010

Tendo a pintura como conceito, o trabalho de Marcone Moreira é resultado da acumulação de diversos materiais que vai recolhendo e tratando, como madeiras de embarcações, portas de ferro usadas no comércio, tecidos de nylon típicos de cadeiras de praia carioca e sacolas de feira. Na exposição Superfícies, o artista mostra trabalhos inéditos recentes, abrangendo esse universo da diversidade de materiais e linguagens, no que chama de "pintura expandida".

A cidade de Marabá, no Pará, à beira do Rio Tocantins, onde vive, está muito presente em seu trabalho. As cadeiras de madeira colorida fincadas dentro d?água, na praia ribeirinha, originaram um trabalho que se desdobrou quando o artista viu as cadeiras coloridas das praias cariocas em 2004. A partir daí, passou a fazer uma série de obras com o tecido de nylon multicolorido. "Me despertou o tecido mais próprio à beira do mar, em contraste com a madeira, e também a questão dos barraqueiros, com o serviço e as cadeiras personalizadas".

O ferro está presente também na mostra, com o trabalho Corrosivo. Moreira resgatou portas de ferro usadas no comércio, pintadas de branco. Ele observou o processo de corrosão retirar pouco a pouco a pintura, e quando essa reação terminou, ele tratou e envernizou o ferro para estabilizar o processo. "O momento que me interessou foi o de observar essa reação do próprio material".

O universo da população ribeirinha em Marabá ? cidade entrecruzada por dois grandes rios, o Tocantins e o Itacaiúnas ? é uma das referências importantes do trabalho do artista, que atualmente finaliza o projeto Banzeiro, realizado com recursos do Prêmio Marcantonio Vilaça/Funarte 2009, e que será destinada ao Museu Casa das Onze Janelas, em Belém. Banzeiro ? o constante movimento das águas existente nos rios amazônicos ? será uma instalação composta por 30 cavernames (peças curvas de madeira que dão forma ao casco das embarcações), distribuídos no piso do espaço expositivo em váriasdireções, remetendo a essa agitação das águas. O projeto abrange ainda fotografias e um vídeo com o registro do processo de trabalho, desde a construção à exposição da obra. Os cavernames serão confeccionados em um dos estaleiros às margens do Rio Tocantins, local onde se concentram várias oficinas de construção e reforma de embarcações, valorizando dessa maneira o trabalho e o conhecimento desses mestres da carpintaria naval.