De 02 Dez 2003 a 10 Jan 2004
O que está nesta exposição provém de um sensor em movimento constante pelo ambiente social altamente saturado que, após captar determinado objeto ou situação, e inspecionar detidamente materiais, dimensões, formas, localizações, etc., procede imediatamente a uma sintética apreensão global do visado. Coloca-o numa espécie de programa de reestruturação plástica. O raciocínio aplicado é elástico, flexível, irônico e forma um conjunto de instruções sobre a visualidade urbana atual. O tempo é o presente imediato. A intimidade conspícua com a cidade fixa a cada instante uma fração qualquer e a equaliza à estrutura contemporânea da imagem. A legibilidade está socialmente dada; é o mundo pop, ou pós. A pretensão do trabalho não é, contudo, reproduzir este mundo, mas traduzí-lo num padrão de apresentação conciso. Raul mede o ritmo de emissão informacional do objeto e equaciona sua aleatoridade numa forma icônica. Seu método, essencialmente democrático, se aplica a qualquer coisa ? placas, sinais, grades, futebol, arquitetura ?, e ainda que esbanje uma versão própria da espirituosidade local, tem um compromisso ?científico? com o resultado final. Imprescindível é a clara definição técnica do trabalho que aceita o improviso, mas não o improvisado.
Raul institui a mobilidade como programa aberto e coletivo: todos circulam pelo espaço da cidade, que é ao mesmo tempo sensorial e mental. Ela é o conjunto de todas as frações disponíveis que, articuladas, formam a vivência cotidiana. Profundamente engajada, a relação diríamos intimamente recreativa, que se estabelece entre artista e cidade é um jogo total constantemente renovado. E assim cada trabalho se revela um modo possível de recriar o lazer espontâneo e a inteligência do cotidiano ? um entretenimento que articula crítica e humor, opondo-se à insipidez alienada da rotina. A economia visual construtiva localiza nitidamente no caótico o humor subjugado e o entrega , sem custo, ao desprendimento do dia-a-dia da vida coletiva.
Este observador ativo fraciona a cidade local/global sem parar, de modo que o trabalho só pode ser múltiplo e o vocabulário plástico um programa que se aplica igualmente a desenhos, esculturas, vídeos, objetos, fotografias e instalações. Igualmente às grandes e pequenas frações.
Paulo Venancio Filho