Notações e Instantâneas

Marcos Bonisson, Antonio Dias, Walker Evans, Roberta Macedo, Armando Prado, Paulo Vainer, Cassio Vasconcellos

De 29 Mar a 24 Abr 2004

Boa ou não? Quem não quer saber?

A polaróide, aliás, foi inventada para satisfazer a impaciente curiosidade de uma criança, Jennifer, de três anos, filha de Edwin Land. Em 1947, Land testou a universalidade da polaróide - em suas próprias palavras - nas ?Mães da América?: se estas senhoras conseguissem desempacotar a câmera, carregar o filme, clicar e ver bons resultados, então a sua invenção poderia ser declarada um sucesso. A câmera mágica que qualquer um podia comprar e manipular foi um hit instantâneo com o grande público e, segundo as estatísticas da época, transformou a rotina de festas e casamentos: de repente, todos voltavam para casa com uma preciosa lembrança do evento ao qual acabavam de assistir.

Sessenta anos depois, a polaróide continua ágil, com vida própria; apesar da certa idade, persiste como um meio de experimentação radical. Avó da câmera digital - de quem esta herdou a rapidez do feed-back - a foto em polaróide passou para o mundo da arte, pulou para as mãos dos artistas e ganhou funções múltiplas que extrapolaram tudo aquilo que Land imaginara. Hoje, continua a fascinar artistas e leigos pelo seu caráter tátil e intimista. A curiosidade perdura como aos olhos da pequena Jennifer.

-E aí? Ficou boa?

Se não, o dedo está pronto para apertar, de novo, este botão/gatilho de idéias.

O processo de revelação imediata da polaróide:

Possibilita cores e texturas nunca dantes imaginadas. Vide os misteriosos e fascinantes Noturnos de Cássio Vasconcellos, a profunda negritude e as manchas de luzes das desoladas paisagens urbanas de Paulo Vainer e as combinações bizarras e explosivas das imagens de Armando Prado. Vasconcellos, Vainer e Prado também transformam suas polaróides em belíssimas ampliações fotográficas. 

Condiz à exploraçaõ de técnicas infinitas e de experiências intrigantes e surpreendentes como nas fotografias de Marcos Bonisson e de Roberta Macedo. 

[essas bem-vindas irreverências nos remetem à famosa máxima de Jasper Johns: ?tome um objeto, faça algo com ele, faça outra coisa a ele?]

Convida à sensualidade gestual e espontânea de Antonio Dias que, durante os sessenta segundos de revelação, rabisca no papel fotográfico ao mesmo tempo que a imagem se insinua suavemente. Dias nos lembra também que a polaróide é um eficiente arquivo de idéias / um caderno de notações / um rascunho de trabalho.

E o que dizer do grande mestre americano Walker Evans que encontrou na Polaróide o seu último sopro de criatividade? Desiludido com a vida, aos 70 anos, comprou uma SX-70 e recomeçou o trabalho difícil de fazer ?fotos inteligentes?. Resultado: 2650 polaróides em 14 meses. Nesse período, conseguiu reinventar o seu vocabulário visual, o da arquitetura vernacular, dos sinais de beira de estrada e interiores domésticos. E aqui as vemos, mais contemporâneas do que nunca, essas fotografias diretas e honestas, poéticas observações do seu mundo.

Evans é a prova definitiva do poder revigorante e criativo da pequena polaróide.

Nessia Leonzini